sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ESTRELA NEGRA - Primeiro Capítulo - Trecho

Para dar uma palhinha do que vem por aí, segue trecho do primeiro capítulo de Estrela Negra, a continuação de Crepúsculo Vermelho. Espero que gostem e comentem!


Até que demorou a acontecer, se alguém para pensar no assunto. Os sinais estavam todos ali há semanas. Mas eu não queria vê-los...

Capítulo I – Medo do Escuro

Have you run your fingers down the wall
And have you felt your neck skin crawl
When you're searching for the light?
Sometimes when you're scared to take a look
At the corner of the room
You've sensed that something's watching you
(Fear of the Dark – Iron Maiden)

Nevava pesado havia uma semana. Os ventos estavam mais gelados e fortes do que o habitual de nossos invernos e todos os dias acordávamos com as máquinas da prefeitura limpando as ruas e com o som das pás raspando e afastando a neve das calçadas.
Em Red Leaves não havia aquecimento global, havia congelamento global.
Tudo estava branco e embora paisagens nevadas possam parecer atraentes para quem vive em locais ensolarados, posso garantir que não havia nada de atraente em se caminhar com neve até os joelhos, ter os motores dos carros congelados e viver sob a ameaça da falta de energia.
O aquecedor de nossa casa, um modelo antigo e nada ecológico movido a óleo, trabalhava com força total, mas mesmo assim temíamos que a falta de energia nos atingisse a qualquer momento Aliás, era um milagre ainda não ter acontecido. O inverno estava sendo um tormento para todos: há uma semana Frank estava instalado na casa de Joyce, pois era impossível viajar de Green Falls até Red Leaves em segurança. Minha mãe andava com os nervos à flor da pele, ainda preocupada que eu tivesse qualquer recaída de meu estranho acidente e um tanto assustada pelas alterações que via em mim. Fred, como sempre, estava insuportável, correndo para cima e baixo e criando caso por qualquer coisa. E o pior, muito pior do que tudo, eu e Bill não podíamos nos ver!
Claro que a neve não era problema para ele, mas como explicar à minha mãe que apenas Bill conseguira se deslocar em meio às nevascas quando ninguém mais conseguia? E Bill estava de viagem marcada para Los Angeles dali a dois dias! A banda faria uma apresentação em um mega-show beneficente em prol das vítimas de uma catástrofe.
E desta vez eu não poderia acompanhá-lo. Eu tinha aulas! Nunca odiei tanto ter 17 anos!
Para piorar tudo, eu precisava voltar a ver o Dr. Strideus, já que o remédio que ele me dera estava terminando.
Enfim, meu começo de ano que havia sido como um sonho se transformara em um pesadelo irritante.
Uma semana antes de terminar janeiro, a energia elétrica finalmente acabou. Por volta das 7 horas da noite, quando estávamos nos sentando para jantar tudo ficou absolutamente negro. Todas as luzes da cidade se foram.
Silenciando rádios e TVs, a escuridão deixou no ar apenas o som do vento que soprava assobiando morbidamente.
Foram apenas alguns segundos de silêncio antes que as pessoas começassem a procurar velas e lanternas e a telefonar para a central de energia em busca de informações, mas foram segundos agourentos. Estranhos. A sensação que tivemos foi a de que eles precediam uma catástrofe.
Quando a escuridão veio, Fred estava sentado na mesa, minha mãe tinha uma tigela de purê de batatas nas mãos e eu vinha entrando na cozinha para jantar. O primeiro som que ouvi foi o grito de Gena e então a tigela espatifou-se ao chão. Tudo isso em segundos que demoraram milênios para passar. Segundos também para eu me dar conta de que enxergava perfeitamente embora não houvesse luz. Eu via na escuridão! Isso pode parecer muito poético, mas me apavorou até os ossos.
Eu sabia que não havia energia, como eu podia estar vendo tudo com tanta clareza?!
Olhei para Fred e para minha mãe sem entender o que havia acontecido, toda a cena estranha demais para que eu pudesse raciocinar.
- Que foi? – gritei para Fred, assustada.
- Seus olhos, seus olhos! – ele gritou de volta.
Falávamos aos berros, apavorados.
- Mãe! – gritei quando a vi se amparar na mesa antes de desmaiar.
- Monstro! – berrou Fred para mim.
Com uma agilidade que com toda a certeza deste mundo eu não possuía, saltei sobre a mesa e sobre Fred em direção à minha mãe para socorrê-la. Então, o som da porta da frente sendo aberta com violência me fez rosnar alto de forma pavorosa e saltar para longe da mesa. De relance vi meu irmão gritar e entrar embaixo da mesa apavorado. Ao me virar para saltar em direção à sala, eu os vi parados ali feito fantasmas.
Eles eram quatro e eram enormes.
Mesmo com a visão perfeita que eu possuía, não conseguia vê-los com clareza. E eles não emitiam som algum, sequer pareciam respirar.
- Bill? – perguntei ofegando, sabendo que estava fazendo aquela pergunta apenas porque me agarrava a um fio inexistente de esperança. De minha garganta, entretanto, saiu apenas um rosnado abafado.
Rápido como um raio, um pensamento surgiu me deixando congelada de medo: vampiros! Nós estávamos sendo atacados por vampiros!
Desesperada, tentei alcançar Bill por telepatia, mas obviamente apavorada como estava não conseguia coordenar os pensamentos ou me concentrar em nada que não fosse o medo alucinante que sentia. O que fazer? O que fazer?
Um deles deu um passo em minha direção e eu urrei, instintivamente, parada em posição de ataque e esperando ser intimidadora o suficiente para afastá-los dali, mas não foi o que aconteceu. Ele continuou caminhando em minha direção com passos suaves e extremamente fluídicos, como se bailasse ao invés de andar. Os outros três de aproximaram de Fred e de Gena, que continuava desmaiada no chão.
- Leve todos – disse o homem que caminhava para mim. Sua voz era sonora e agradável.
Uma voz forte, uma voz que eu conhecia... Mas conhecia de onde? E por que eu não conseguia vê-los com clareza, quando tudo o mais surgia nítido diante de mim?
Em um último gesto de desespero, tentando proteger minha família, saltei sobre o desconhecido, sentindo que possuía garras nas mãos e que elas estavam expostas de forma feroz. Com extrema agilidade e rapidez ele se desviou para o lado e com um movimento preciso me dominou. Seu rosto estava a apenas alguns centímetros do meu, mas mesmo assim eu não conseguia vê-lo!
- Calma, Megan! – disse com voz imperativa.
Eu estremeci. Aquela voz! Aquela era a voz dos meus sonhos! Mas como poderia ser, se a voz dos meus sonhos era a voz de Bill? Eu estava enlouquecendo?
Apurei todos os meus sentidos que já estavam muito acima do normal, mas não conseguia ver seu rosto, ou sentir seu aroma.
A única coisa que vi antes de apagar foi uma grossa trança dourada caindo sobre seus ombros...

Agora é só esperar pelo resto do livro!
Beijos!